Pizza mezzo a mezzo


Não escrevo há quase um mês. Não me faltam motivos para escrever.  Falta motivação! Desde o último texto publicado - Quebrando o silêncio - me dediquei a virar a internet pelo avesso, a contatar colegas e amigos, à procura de trabalho. E também a assistir, aqui e ali, um pouco das manifestações que ainda pipocam  Brasil afora.


O trabalho? Ainda não achei. Mas este é um assunto para outra hora, apesar da urgência em encontrá-lo!  Também não achei a resposta para a questão que vem martelando na minha cabeça desde que estes movimentos começaram: será que minha visão é tão estreita e está completamente deturpada quando  digo que as manifestações não passaram de um oba-oba, de uma grande e perigosa farra? Como escrevi no último texto: “... as pessoas foram pra rua quase como vão para comemorar a conquista de uma Copa do Mundo!  ... não senti que havia um norte, um “clamor” nacional como o das Diretas Já! Me pareceu mais farra do que qualquer coisa.” Será que errei tanto assim? 


Duas amigas me garantiram que sim. Discordaram da minha opinião e, como publicaram seus comentários aqui mesmo neste blog, tomo a liberdade de reproduzir uma ou duas de suas frases: 

“... achar que este movimento é coisa passageira e com seus dias contados acho um grande equívoco de sua parte...” (Monica Martins)


“Discordo de sua opinião. Não é "farra", é uma catarse coletiva que está se desdobrando em muitas discussões sobre política, o que para o nosso país é essencial...” (Katia Costa)


Confesso que continuo em dúvida se errei. Porque ao fazermos as contas das vitórias obtidas com as manifestações, noves fora as depredações, violência e equívocos cometidos de parte a parte, chegamos a um triste balanço: mais uma vez tudo está acabando em pizza, para não deixarmos o chavão de lado! Menos mal, eu diria que numa pizza mezzo a mezzo! Mesmo assim me pergunto: está valendo a pena? Não sei. Às vezes até acho que sim, afinal, mais de 15 municípios, entre eles Rio e São Paulo, reduziram os preços das passagens, o grande estopim das manifestações! A PEC 37 foi arquivada, por maioria absoluta, além de outras conquistas, como a destinação de mais verbas para educação e a aprovação do projeto que tornou a corrupção um crime hediondo. Mas uma coisa que não sei se todo mundo percebeu é que esta ebulição da sociedade brasileira está nos fazendo despertar sim, só que com um grande tapa na cara! E o sonho acaba aí.


O Brasil que temos visto estampado nos jornais, não me dá o menor orgulho! Ao contrário, me causa constrangimento. Sinto vergonha ao ouvir um Maracanã lotado vaiar a presidenta, como ela gosta de ser chamada, com transmissão ao vivo e a cores para todo o mundo, quase às vésperas de nossa Copa do Mundo! Sinto vergonha ao ver a cara-de-pau dos políticos que usam os aviões da FAB sem a menor cerimônia. Sinto vergonha de ter um governador, eleito pelo povo, que usa helicóptero para ir para o trabalho, enquanto a população que o colocou no Palácio se espreme nos ônibus, trens, metrôs, vans e barcas da vida. Sinto vergonha ao ler relatos da ação da polícia em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, jogando bombas embaixo de carros estacionados, agredindo com violência os manifestantes verdadeiros e deixando os baderneiros livres, leves e soltos. Na teoria a polícia deveria manter a ordem, não? Mas na prática, aproveita as manifestações para inflamar ainda mais os ânimos! É isto? Afinal, de que lado ela está? Sinto vergonha...


Sinto vergonha ao ver a depredação de prédios históricos, de bancos e de lojas, que também foram saqueadas, como aconteceu no Leblon. Sinto vergonha ao saber que os policiais estão acuados, por horas, dentro da Assembléia Legislativa no Rio de Janeiro, enquanto os vândalos tomam conta das ruas e o poder público não sabe o que fazer ou, simplesmente, deixa rolar, para confundir a população que assiste a tudo completamente chocada. Sinto vergonha ao ver diversas fotos de manifestantes NUS, na Câmara Municipal de Porto Alegre – mas com os rostos devidamente escondidos. Qual o objetivo de uma manifestação como esta, a não ser a agressão pura e simples?


É este o Brasil que queremos? É isto o que temos para mostrar para os nossos filhos, para o resto do mundo? É este o “gigante” que acordou? É este o resultado que tanto buscamos? É esta a “catarse coletiva que está se desdobrando em muitas discussões sobre política, o que para o nosso país é essencial...”, como disse minha amiga Katia Costa, jornalista como eu? Sinto vergonha mas pergunto: será que ‘trazendo médicos de Cuba’ iremos conseguir cuidar de tantas mazelas que afetam nosso país? 

Não acredito. E acho que ninguém, com um mínimo de bom senso, acreditaria. Acredito sim que o que temos visto agora, escancarado em todos os jornais, revistas, tevês e internet é o resultado de séculos de jeitinho brasileiro. É o resultado que conseguimos alcançar quando, simplesmente, deixamos “a vida nos levar”. E por falar nisto, me dei conta que daqui a pouco talvez não sejamos nem mais o país do futebol. Nossos jogadores já encontraram o que às vezes me parece ser a única saída. Porque pra mim, o que temos visto – e vivido - é o resultado de um país onde vale tudo e que, finalmente, com máscaras ou panos enrolados sobre o rosto, está mostrando a sua verdadeira cara. 


Infelizmente, a cara do Brasil, não é a da Gisele.

foto estadão

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