Aquele abraço!

" Este texto foi escrito há pouco mais de um ano. Guardei por achar que não era o momento ideal para ser publicado. Espero não ter feito a escolha errada hoje! 

Maria Helena, queira me bem!! "

Acordei no meio da noite - como tem sido comum nos últimos tempos - com o computador ligado. Também, como tem sido comum nos últimos tempos, fui dar uma “olhada breve” na internet, o que quase sempre me leva a ver o dia amanhecendo. Mas esta madrugada, de 12 para 13 de maio de 2016, não foi de sono desperdiçado. Encontrei, no meio dela, mais uma crônica de Marceu Vieira que me emocionou e que não poderia deixar de compartilhar: “Meu abraço em Dilma e sobre um outro abraço”. Mais do que pelo conteúdo, pela qualidade do texto ou pelo prazer da leitura, não poderia deixar de compartilhar pela pureza de suas palavras e pela mágica que esta leitura produziu em mim.(https://marceuvieira.wordpress.com/2016/05/12/meu-abraco-em-dilma-e-sobre-um-outro-abraco/)

Desde ontem o dia 12 de maio entrou para a história de nosso país – o dia do “impeachment” de Dilma, a primeira mulher eleita presidente do Brasil. Mas 12 de maio sempre foi uma data especial no meu calendário e de uma outra mulher, que assim como Dilma (guardadas as devidas proporções, é impossível não fazer este paralelo), entrou para a história. Não do país, mas sim como uma das duas primeiras magistradas do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Esta mulher, por acaso, é minha mãe.

Se duvidar, minha mãe estava mais emocionada do que a própria Dilma no dia da posse da ‘presidenta’. Lembro que estávamos em Saquarema e
FOTO:PEDRO LADEIRA (ESTADÃO)
que ela não desgrudou um minuto da tevê, nos chamando a todo momento para dividir conosco aquele momento histórico. Afinal, era mais uma mulher a conquistar um posto historicamente masculino, como ela própria havia feito ao ser empossada juíza de direito, ainda na década de 1960! Mas ontem minha mãe já não estava tão feliz assim pela conquista de Dilma. Defensora do impeachment, nós duas discordamos do desfecho deste imbróglio político. Aliás, não só do desfecho. Minha mãe não se conforma por eu não compartilhar da mesma opinião que ela.  Segundo afirma, sou a “única” voz dissonante da família (não é bem assim...só na minha casa somos cinco!). Por isto,   mais uma vez ouvi :“já vivi muito mais do que você, você não sabe o que está falando!”

Ah mãe, como eu gostaria de poder dizer: “é verdade, ainda não tenho vivência, não tenho maturidade para discutir este assunto”! Mas não, mãe. Já tenho mais do que meio século de vida, lembra? Tive o primeiro dos meus três filhos, há 25, quase 26 anos. Aliás, quando Lucas nasceu, em setembro de 1990 fui chamada para ser mesária nas eleições novamente. O primeiro turno das eleições gerais foi no dia 3 de outubro, 3 dias após o parto. Eu já havia sido mesária em 1988, quando Collor foi eleito presidente. Nesta época eu era repórter no O Globo, lembra? Já havia passado pela redação do saudoso Jornal do Brasil, meu primeiro emprego como jornalista! Quanto orgulho! ‘Euzinha’ jornalista do JB, jornal sempre lido e admirado por meus pais. Você lia sempre a Coluna do Castello, lembra mãe?

Pois é, mãe! Já se passaram quase 30 anos do meu primeiro emprego como jornalista. Ontem,  exatamente ontem, 12 de maio de 2016, quando você faria 60 anos de casada caso meu pai fosse vivo, caso não tivessem divorciado tantos anos antes, a data entrou tristemente para a história de nosso país. Para nós, desde ontem são dois fatos marcantes na mesma data. Porém, como você sempre nos disse, apesar do fim do casamento, “só valeu”! Pelo legado, pelos filhos, pelos netos e bisnetos. Pela família que você sequer sonhava em ter naquele 12 de maio de 1956, ao se casar na Igreja Matriz de Barra Mansa. 

Resta a mim hoje, 13 de maio de 2016, uma sexta-feira, continuar na torcida para que daqui a alguns anos você – e tantos outros que têm opinião oposta à minha e a de milhares de pessoas que se posicionaram contra o impeachment de Dilma – veja que o governo que foi destituído ontem não pode ser 100% responsabilizado pela crise de nosso país e por tudo que vem a reboque (corrupção, roubalheira, crise na Petrobras, desemprego, lava-jato...). Infelizmente tudo isto era varrido para debaixo do tapete há décadas e já estava se tornando “patrimônio nacional”! Sei que você sabe disto. Resta a mim torcer para que um dia vocês vejam que valeu a pena! E resta a mim, ainda, pedir que não deixe de ler o texto de Marceu Vieira, no qual ele diz para Dilma:

“Obrigado por não se igualar a tantos homens que rodeavam seu tailleur no palácio e por ter resistido com tanta dignidade a tamanhas indignidades cometidas contra a senhora ou bem perto da senhora.
E não vou esperar a História pra lhe dar o meu abraço sincero de carinho e gratidão por sua conduta.”


Vale o escrito para você também! Um abraço, mãe! Parabéns pela data de ontem! 

Comentários

  1. Muito bom. Ainda bem que estávamos do lado certo da História. Este impeachment é causa de todos os retrocessos que tivemos nos últimos 4 anos e que abriu caminho para este energúmeno no poder.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Que bom que você visitou meu blog. Não se esqueça de registrar sua visita me deixando um comentário, ok?

Postagens mais visitadas deste blog

Dores

Simples

Nêga, está online? Sete, seis, cinco....