Vai pra casa, Tininha!

 Em dezembro de 1980, eu e minha irmã mais nova, Ângela, nos preparávamos para passar uma temporada de seis meses nos EUA. Era a época em que muitos jovens de classe média faziam intercâmbio para a casa de famílias no exterior, mas no nosso caso foi diferente. Tínhamos alguns amigos americanos que nos receberam por lá – Joan Meznar,  seu irmão Martin Meznar e Larry Welch.  Ângela ficou em Austin, no Texas, na casa de Joan por seis meses. Foi também lá que passamos o Natal de 1980. Apenas Joan, Martin e nós duas. Já  Larry Welch, que também nos recebeu no aeroporto em Dallas, quando chegamos, estudava na North Texas State University, em Denton.

Segui para Denton, depois do Natal. Fui fazer um curso de Inglês para estrangeiros e fiquei num dos alojamentos da universidade. Seriam seis meses de estadia, a princípio. Mas, como meu visto tinha um ano de validade e arrumei trabalho no Mac Donald´s e em um dos refeitórios da Universidade, que me garantiam o sustento, em maio ou junho de 1981, resolvi ficar até o final do ano. Foi exatamente nesta época que ‘ela’ surgiu em nossas vidas.

Eu, Tininha e Ângela, em Saquarema (2015)

Com minha decisão de ficar mais tempo, minha mãe rapidamente arrumou as malas, foi buscar a caçula e ver como eu estava. Nestas malas vieram duas camisetas da loja Phillipe Martin, presente de Tininha, nova namorada do nosso irmão Fábio, que sequer conhecíamos. Foi assim, de forma generosa, que ela marcou definitivamente – para nossa sorte!! – sua entrada na família! A bem da verdade, ao longo destes 40 anos, foram muitas saídas e entradas de Tininha na família. Bem, ela podia até pensar, quando o casal brigava, que estava saindo da família. Mas quem a conhece, jamais vai querer que Tininha não faça mais parte de seu rol de amigos. Ela podia até se separar, mas continuaria a ser uma pessoa especial para todos nós. Estávamos sempre na torcida para que reatassem, o que sempre aconteceu.

Tininha, aos 18 anos!

Sendo assim, depois de muito ouvir “Vai pra casa,  Padilha!“ (quem se lembra do jargão do personagem de Jô Soares, que tinha um “mulherão” e a deixava sozinha em casa?), Fábio se casou com Tininha. Tiveram dois filhos e hoje já têm dois netos lindos, que só fizeram crescer o amor e a generosidade do casal à vida, aos amigos e à família! Alegres, divertidos, contadores de caso, generosos e extremamente cuidadosos com as pessoas que amam, Fábio e Tininha, em 2020 superaram todas as expectativas.  Desde 20 de março, meu aniversário, que marcou para nós o início do isolamento social, cercam de carinho, atenção e muita mordomia, minha mãe, Maria Helena, a Vó Ena. Foram incansáveis desde março deste ano, mas hoje, a meu pedido, e com a aceitação dela, a trazem de volta para casa, que fica exatamente abaixo da minha.

Fábio, minha mãe e Tininha, bem antes da pandemia.

Moramos no mesmo prédio, passaremos o Natal e final de ano juntas: eu, Walter, Tiago, Gabriela e minha mãe. Nem mesmo meu filho Lucas e sua namorada, Diana, que moram em Copacabana virão para o Natal. Claro que sentiremos falta de todos da família que costumam lotar e alegrar nossas ceias de Natal, sempre com uma média de 30 pessoas. Mas,  da mesma forma que  foi o  meu Natal e de Angela no Texas - com poucas pessoas e com a expectativa de que 1981 fosse um ano novo cheio de alegrias - será este Natal, com poucas pessoas e os melhores desejos! Tenho fé que 2021 será um ano com A maiúsculo! Assim como o A, de Albertina, a nossa Tininha, que não respondia à chamada da escola por não gostar do nome de batismo. Tentou se esconder e ser uma das últimas na chamada, com seu apelido! Mas não conseguiu...Será sempre uma das primeiras em nossa família, pelo imenso  amor e amizade que sempre nos dedicou.

Obrigada de coração, Tininha e Fábio. Feliz Natal. Que em 2021 as horas alegres se multipliquem. Para garantir isto,  vale lembrar: “Vai pra casa,Fábio!”