Quebrando o silêncio




Vivi os últimos dias com o coração apertado como, suponho, a maioria dos brasileiros. Chocada com as manifestações Brasil afora, sentei na arquibancada e resolvi ver a “banda passar”. Ou melhor, as bandas: a honesta e a podre! Passei pelo sufoco de ter que impedir meu filho, de 15 anos, a ir pras ruas, e pela alegria de ter o filho mais velho, de 22 anos, que está estudando fora, bem distante nesta hora. Falou mais alto o coração de mãe. Sofri com a decisão, porque eu também gostaria de estar lá. O pai, apesar de ter outra opinião, respeitou a minha decisão. Difícil para nós dois? Sim, mas muito mais difícil pra ele, que participou de tantas manifestações no passado, contrariando os próprios pais. 

Confesso que senti “inveja” dos colegas jornalistas que, mais uma vez participaram da cobertura de um momento que, apesar dos pesares, já é um marco na nossa história. Mas, há um ano e cinco meses eu sou apenas mais um número na estatística dos desempregados deste país! Ir para as ruas com minha câmera chegou a passar pela minha cabeça. Novamente, o juízo falou mais alto. Que garantia eu teria para proteger a mim – que não conto sequer com a possibilidade de correr em caso de tumulto, graças a um joelho ruim! – e a meu equipamento? Melhor ficar na arquibancada mesmo. E, sentada nela, fui  tentando digerir  as informações.

Mais uma vez devo confessar: estou sofrendo de ‘overdose’! Ligo a televisão e não vejo outra notícia a não ser sobre as manifestações. Todos os programas que têm uma brecha para falar no assunto, o colocam novamente no ar. Fotos, vídeos, notícias, opiniões, artigos, frases feitas, questionamentos pipocam na tela de meu computador.  Pra não dizer que não emiti qualquer opinião anterior, ontem falamos sobre o pronunciamento da Dilma no grupo da família que criamos no WhatsApp  e compartilhei uma ou outra foto no meu facebook.

Sei que devo estar sendo “crucificada” por muitos colegas jornalistas, por perder o “timing” e pelo o que escrevi acima. Afinal, como ficar tanto tempo calada, sem sequer publicar uma opinião no facebook? Simples: achei que as pessoas foram pra rua quase como vão para comemorar a conquista de uma Copa do Mundo! Havia a questão dos R$ 0,20, eu sei. Mas não senti que havia um norte, um “clamor” nacional como o das Diretas Já! Me pareceu mais farra do que qualquer coisa. Principalmente depois que houve a decisão de baixar o valor das passagens. Pronto, falei! Podem me crucificar!

Não sei se estou certa na minha avaliação. Na verdade, por tudo que vi, ouvi e li, acredito que, pelo menos um pouco de razão devo ter. Vou me apoderar aqui da fala de uma sobrinha, de 20 e poucos anos, que foi à manifestação do dia 20, no Rio de Janeiro. 

“Eu fui da Candelária até a Central. Muito tranquilo. Achei meio desanimado. Eu acho que isso não vai longe mais não. Muita gente parecia que estava passeando, sem união e organização”.  

Diante disto e ainda perplexa com tudo que está acontecendo, faço minha última confissão deste domingo, também retirada do nosso bate-papo via WhatsApp:

“Não sou politizada, não gosto de política, não pretendo participar de nada (leia-se qualquer debate ou mesa de discussão!). Nem à época da UFF tinha paciência para política, DAs e cias. Mas sei o que é ético, honesto e humano.”

E acho que hoje é isto o que mais falta para os brasileiros: ética, honestidade e humanidade. E, se o exemplo vem realmente de cima, todos sabem que não estamos muito bem na fita. Pelo menos, politicamente falando. Peço licença também pra fazer uma analogia: estamos, há um bom tempo, deixando de ser o país do futebol para ser o país do “vale-tudo”! Infelizmente, o “esporte” está deixando os ringues para tomar as ruas, como tristemente constatamos nas inúmeras manifestações por todo o Brasil.

Precisamos, definitivamente, sepultar a malfadada Lei de Gérson. Necessitamos, urgentemente, preservar e difundir esses valores dentro de casa, para nossos filhos, no nosso ambiente de trabalho, no trânsito, nos clubes, nas escolas, nas igrejas, nos supermercados, nas ruas. Ser honesto, ético e humano não é vergonhoso, muito pelo contrário. Como ouço desde criança, deitar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila e a sensação do dever cumprido, não tem preço! Mas que não seja da boca pra fora.  Porque de frases feitas, as redes sociais estão cheias. 

Pra mim, já seria um começo e tanto!

Comentários

  1. Concordo em gênero, grau e número com o seu último parágrafo, está perfeito, mas o resto do seu texto me parece de uma pessoa completamente desinteressada e medrosa. Querendo ou não você vive e faz política todos os dias e achar que este movimento é coisa passageira e com seus dias contados acho um grande equívoco de sua parte. A sua sobrinha talvez tenha pensado que iria encontrar um Cabo Folia e ficou decepcionada, só o ato de estar ali já é uma manifestação do seu desejo de que haja mudanças. Enfim, "não concordo com uma palavra do que disseste (tirando último parágrafo), mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". Beijos e continue escrevendo, gosto muito dos seus texto.

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    1. Monica Martins: que ótimo saber que você lê meus textos (e que gosta deles, apesar dos pesares!!!). Melhor ainda é ver que não concorda com tudo o que escrevi, pelo menos neste último. Acredito, no entanto, que se você fizer uma leitura um pouco mais atenta irá constatar que não estou completamente desinteressada - apenas cansada de ver a mesmice produzida pela nossa imprensa. Aliás,por fazer parte desta classe, poderia dizer que é mais minha imprensa do que sua, né?? hehehehe
      Acho que as primeiras passeatas demonstraram que a paciência da população tem limite! Foram, sem dúvida, a "gota d'água"!Como escrevi, "um marco que já entrou para a nossa história"! Mas, pra mim, estava virando oba-oba e, realmente, não gosto de oba-oba e violência. Qualquer um sabe que o perigo está presente nas manifestações e assumo mesmo: não fui por medo - dos bandidos, que se aproveitam do momento, e da nossa mal preparada polícia. Acredito que agora a fase do improviso esteja começando a fazer parte do passado.E desejo, sinceramente, que novos ventos tragam manifestações mais organizadas, com lideranças e objetivos definidos e sem tantos baderneiros infiltrados.
      Ah, mais um detalhe: minha sobrinha não faz o gênero de menina que participa de Cabo folia! Muito pelo contrário - a decepção dela foi exatamente por encontrar mais "curiosos" do que pessoas verdadeiramente comprometidas com as mudanças que desejamos e precisamos que aconteçam em nosso país. Bjs.

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  2. Querida amiga, colega de profissão. Vivi a angústia de ver minha filha de 15 anos ir para as ruas, ajudar na organização de seis ônibus cheios de alunos (ela é do grêmio estudantil). Tudo isso de longe. "Mamãe, se você for não poderei estar do seu lado, sou responsável por um grupo e terei que voltar para o colégio depois da passeata", disse para minha frustração. Permiti sem ser permissiva, após papo sobre o assunto com a presença do pai. Nosso acordo incluía sms de hora em hora. De casa, checava face, TV e telefonemas com o pai para troca de notícias. Participei ativamente das Diretas Já e tive que esconder isso em casa. Prefiro participar, mesmo a distância, com a minha filha desse instante político. Discordo de sua opinião. Não é "farra", é uma catarse coletiva que está se desdobrando em muitas discussões sobre política, o que para o nosso país é essencial e ver minha filha participando disso tudo, apesar dos pesares, é um alento, uma esperança. No entanto, concordo com você com seu último parágrafo. Somos o espelho dessa nação. A falta de ética e incoerências em casa se reflete no Congresso Nacional.

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    1. Katia, imagino a sua aflição pois sei como você é uma mãe dedicada e apaixonada pelas filhas. Não sei como eu reagiria se meu filho tivesse todo o engajamento de sua filha - acho que seria impossível mantê-lo fora. E não creio que eu teria "coragem" para impedi-lo. Mas, não era o caso. Explicamos pra ele a razão pela qual preferíamos que ele não fosse. Não dá pra tapar o sol com a peneira - sabemos que num movimento como este tudo pode acontecer. Infelizmente só contamos com a sorte, pq com a nossa polícia...
      Acho que fui muito transparente no meu texto - nunca participei ativamente de nenhum movimento, mas fui à Candelária no comício pelas Diretas Já, que tinha um norte, um objetivo. Já as manifestações recentes,com exceção das primeiras, que foram pelo aumento das passagens, creio que somente agora começam a ter uma pauta definida.As que aconteceram neste intervalo, para mim, foram meio perdidas, oba-oba mesmo. Agora,como você tão bem colocou,o movimento "está se desdobrando em muitas discussões sobre política, o que para o nosso país é essencial". Que assim seja! Grande beijo.

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  3. Quero ver você com a câmera na mão postando fotos e escrevendo suas impressões nas próximas. Se precisar, estarei ao seu lado te dando força, amiga. Beijos.

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    1. Adorei, Katia! Vou deixar a câmera preparada. Fica faltando só o joelho!!heheheh
      Beijão e ótimo final de semana.

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