“Sou pobre, mas sou limpinha!”


Calma, não se assuste com o título deste texto! Preconceituosa que só, essa frase - que eu ouvia muito quando era criança, lá em Barra Mansa - me veio à cabeça ontem, ao ler um texto publicado pelo colega de redação do JB, Jorge Antonio Barros, em sua página do facebook. Atualmente enriquecendo o jornal O Globo com seus excelentes textos, Jorginho – como eu costumava chamá-lo quando trabalhávamos juntos – publicou o que ele diz ser mais um capítulo da “Novela da minha vida”. Nele descreve a visita que fez há dois dias ao Country Clube do Rio de Janeiro, intitulado “Bola Branca no Country”. Tomo a liberdade de reproduzir aqui o segundo parágrafo de seu texto e mais um pouco:

“Para qualquer pessoa bem-nascida, ir ao Country Clube do Rio de Janeiro faz parte da vida social (pronuncie "cântri"). Para alguém nascido e criado na Zona Norte do Rio, é uma experiência rara. Naqueles muros que cercam um quarteirão de frente para a Praia de Ipanema, com um dos metros quadrados mais caros do mundo, estão os verdadeiros limites da Cidade Partida. Penetrar naquele espaço criado em 1916 para receber ingleses que queriam apenas uma ilha de excelência no meio dos trópicos é considerado por muitos um sinal de status. Como repórter e integrante da classe média, eu tenho sempre muita curiosidade sobre o mundo dos ricos e dos pobres (em 88 morei na Rocinha para uma matéria).”

E aí ele segue contando como foi seu dia no “Cântri”, possível graças ao convite de um amigo  sócio, da chegada ao estacionamento, às delícias do restaurante. E fecha seu texto assim:

“A comida foi excelente, mas o que realmente me impressionou no restaurante do Country foi o banheiro. Impecavelmente limpo. Não havia uma só gota de água no chão ou nas pias pretas(foto). No corredor, há belas fotografias, algumas antigas, da orla do Rio. Nos cestinhos de vime, toalhinhas brancas e cheirosas para se secar as mãos. E apenas um porta-lenços de papel. Se pelo banheiro se conhece a cozinha de um restaurante, a do Country deve ser realmente um luxo. Foi o único lugar da cidade que ainda não recebeu visita da turma da Cidinha, do Procon.”
Foto: Jorge Antonio Barros



Aí vi que não estou sozinha no mundo e começo a explicar o meu título. Pela primeira vez na minha vida, do alto dos meus 51 anos, tive a chance de ir à Europa há poucos meses, com toda a minha família. Privilégio para poucos, só alcançado graças aos últimos vinténs de um FGTS de mais de 8 anos de trabalho e de uma mãe e de um marido generosos, fomos visitar meu filho mais velho Lucas, bolsista do Ciências sem Fronteiras, na University of Wales, em Newport, País de Gales. Nosso segundo dia de passeio foi a Cardiff, capital de Gales. Com suas belas e típicas construções, Cardiff foi, sem dúvida, o primeiro de muitos passeios memoráveis que fizemos ao longo dos 30 dias em que viajamos. Além do lindo Castelo – que, segundo as “crianças” parecia transportá-los para dentro de um vídeo-game -  foi lá, no City Hall de Cardiff, que tive a mesma reação do Jorginho.

City Hall - Cardiff - País de Gales, UK
Com design inspirado nas arquiteturas renascentistas inglesa e francesa, o prédio foi desenhado pela firma Lanchester, Stewart and Rickards, vencedora de uma competição de arquitetura realizada em 1900 e construído por GLB 125,000, pela firma E. Turn and Sons. Inaugurado em 1904, oficialmente, no entanto, só foi aberto em 1905, quando Cardiff foi declarada cidade.  E, no meio de tanta história do século passado, de tantos salões maravilhosos e de inúmeras obras de arte – entre elas um retrato triplo da Princesa Diana, feito por John Merton em 1986 – um dos detalhes que também mereceu alguns cliques de minha câmera, foi... o  banheiro!! 

Gente, eu havia acabado de chegar à Europa!! Entro num banheiro num prédio público, limpo, bonito, cheiroso, com sabonete líquido e loção hidratante para as mãos e não vou me impressionar? Como assim? Todos os outros luxos eram mais do que esperados! Logo que saí do banheiro e pedi a câmera que havia deixado com minha filha Gabriela, pra fotografar o banheiro, ela disse: “Como assim, mãe, tá maluca? Porque fotografar um banheiro? Que mico!!” 


Pois é, Gabriela, mico dos micos, estão aí as fotos do banheiro do City Hall de Cardiff publicadas, fazendo companhia à foto do banheiro do Country Clube do Rio de Janeiro. Além da limpeza, eles têm algo em comum: foram criados, se não pelos próprios, para serem usados pelos súditos da monarquia inglesa! E eu e Jorge Antonio Barros, com certeza temos em comum este espírito observador e inquieto de jornalistas, sempre em busca de algo que possamos usar para relembrar o velho slogan de uma antiga revista brasileira: “Aconteceu? Virou Manchete!” Aí a gente adapta para: "Fotografou? Virou Manchete!"

Castelo de Cardiff

Dragão Welsh, esculpido por HC Fehr, no alto do City Hall

Cenário de video-game?

Princesa Diana aos 25 anos

Interior do City Hall

Comentários

  1. Eu preciso visitor o Pais de Gales, Mariza. E vou conferir o banheiro. Beijao e saudades. Isa

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    1. Isa, morando há tanto tempo na Inglaterra, você não irá se surpreender com o banheiro! Mas vale visitar Cardiff! E então, quando vocês virão ao Brasil? Tá na hora já, não? Bjs, também com saudades!

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