Carta aberta aos que têm medo

Escrevo aproveitando o siëeencio da madrugada. Faltam 10 minutos parra as 5h dedo sábado, 6 deoutubro, v~esperas das elei~cooes no Brasil. SOu uma pessoa pprivilegiada ,posso afirmar isto sem medo.Estou segura em minhacasa com meunarido,minhafilha caçula, meu filho do meio e a namorada dele. O filho mais velho mora em Copaaaa, com a namorada.Daqui de cima no oitavo andar, a estsa hora só ouço o barulho das ondas do mar,os passarinhhos que com seu canto quebram o silencio e, vez ppor ooutra, um ou outro arro passando. Da janela Sdo um quarto tenhoo este visual maravilhoso, uma benção diária.




Minha mãe, que mora no apartamento abaixo do meu, chama de Janela magica. Mas, nem tudo é mçagicoou f~~acil a vida da gente, por isto resolvi escrever. Com muita dificukdade vou  digitandoeste texto. Meu pensamento é  rápido, nelle já estou no ponto final. Mas meu corpo todo treme, minhasmãos tremem,  meu dedos erram asteclas. Sim, tenho Parkinson. Há doze anos tive o diagnõstico. Demorou muito pra cair  a ficha...me lembro cada detalhe deste dia, em maio de 2006. Eu mmoria de medo que meu marido tivesse Parkiinson = o pai dele teve Parkinson - porque, confesso, sou p~essima para cuidar das pessoas doentes. Sempre fui...Vi a doença de meuu sogro avançar ao longo dos anos, o cuidado extrempp de minha sogra. Jamais teria como fazer o mesmo...Ironia da vida.Hoje meu marido e meus filhos são o meu porto seguro! Se eles seria milhares de vzes mais dif~icil.




Escrevo hÁ uma hora...someentee 2 parãgrafos recheados de e rros de digita~ãoO dia já amanheceu. Vou esperar o efeito dosrempedios...




Quinta-feira, 11/10/2018 


Desisti de continuar o texto acima no sábado. Achei que não era hora de publicá-lo. Deixei guardado no meu computador. Passados cinco dias, resolvo continuar. Se vou publicar, não sei. Mas estou tão angustiada que talvez seja uma forma de melhorar. Tomei meus remédios há mais de duas horas, ainda estou sob o efeito deles. Erro um pouco ao digitar, mas nada como o texto acima, que resolvi manter sem corrigir. Acho que todos conseguirão entender o que escrevi...


Há 12 anos dependo dos mesmos remédios. Cada vez  mais. Meu dia é partido. Lembram de uma propaganda que tinha uma música que dizia: 250km, para um pouquinho, descansa um pouquinho... 350km, para um pouquinho, descansa um pouquinho...? Pois é, assim é meu dia. Sempre parando para esperar o efeito do remédio. Nem todos os dias são iguais, depende de uma série de fatores, claro. Mas não há sequer um dia, atualmente, em que eu tenha 5h, 6h de atividades, sem ter que parar no meio, descansar, esperar... Sair para resolver algo nas ruas, sozinha, tem que ser algo bem planejado, para não ter que ligar para casa e pedir que alguém vá me buscar pois estou sem qualquer condição de me movimentar sozinha. Por isto, acabo ficando mais em casa... 





Se você que está lendo este texto nunca teve contato com alguém que tenha Parkinson, vou resumir: o pensamento, a consciência, os desejos continuam a existir. Mas o tremor, a falta dos movimentos, a fraqueza extrema que toma conta de quem tem a doença, faz com que você se torne um prisioneiro. Um prisioneiro de seu próprio corpo. Não existe cura para o Parkinson. Apenas remédios para aliviar os sintomas. E eu já tomo a dose mais alta possível! E garanto: deprime, desespera, assusta. Mas não posso, não tenho o direito de perder a esperança de que vou melhorar. Sei que sou responsável por não estar melhor do que estou. Preciso fazer exercícios. Há muito tempo sei disto, mas venho postergando. Agora não dá mais para adiar. Tenho plena consciência disto. Sei que a responsabilidade é minha e vou correr para me recuperar. 



Não escolhi a doença. Ela chegou num momento de crise muito grande, em 2006. Poderia culpar tantas pessoas por ela ter acontecido, mas não penso assim. Segundo  um dos neurologistas com quem me tratei, esta é a doença do trauma, a doença do medo. Assim como uma doença cardíaca , provavelmente você já carregue no seu dna tudo o que precisa para deflagrar a doença. Como um infarto...Tá tudo pronto dentro de seu corpo. E foi o que aconteceu comigo. Quem trabalhava comigo nesta época sabe do que estou falando. Éramos felizes, tínhamos uma equipe sensacional, show de bola! Mas, o sonho acabou. Depois de muitos problemas, muito assédio moral, muitos colegas foram demitidos, muitos remanejados. Eu fui uma das remanejadas para outra gerëncia. Mas já trouxe comigo o diagnõstico, já trouxe comigo o resultado de tanta tensão. 



Hoje estou aposentada. Por invalidez. Tenho 56 anos e gostaria imensamente de continuar trabalhando. Mas sei que não dá mais pra mim. Tentei alguns frilas, mas nada surgiu. Fotografo muito. Por prazer, porque jamais poderia assumir um compromisso e na hora começar a tremer... Cheguei a fazer uma pequena exposição em 2015, mas o mercado estã disputadíssimo. Não sei vender meu peixe, não tenho mais como correr atrás de espaço para expor.... Bem, pelo menos por enquanto. 


Quero acreditar que vou sair desta crise que estou passando. Estamos tentando reduzir a dose de meus remédios (eu e a neurologista). Tem sido dias – na verdade, meses  difíceis.



Associado ao exercício voltarei  me tratar com medicina ortomolecular. Vai dar resultado. Aí vou poder brincar e mandar o recado para a doença: Parkinson, saia deste corpo que ele não te pertence! Tenho meus sonhos, minha família, meus filhos, um mundo inteiro para conhecer, fotografar, milhares de pessoas para conhecer, bater um papo, trocar ideias... tanta coisa ainda a aprender! Não posso me entregar a crise. Não posso  bater de frente com minha doença. Não posso colocar a culpa em ninguém, nem esperar que alguém me salve. Não há a opção do aeroporto, escolha de muitos que acreditam que deixando o país tudo irã melhorar... Não tenho vontade de sair do meu país, que tamb~ém está em crise. Mas acho que para tentar amudá-lo, aainda tenho alguma capacidade. Porque, como disse acima, minha capacidade de racioc~inio ainda é a mesma. Preciso dela para colaborar com nosso Brasil. Não preciso da forçaa física. Preciso de esperança, não de ódio, Preciso de união e de vontade. 






Como jádevem ter notado, passou o efeito dos remédios. Gostaria, somente de deixar claro que decidi escrever este texto não para apelar,não para me expor, não para que tenham pena de mim, longe disto. Há milhares de peeessoas neste país, no mundo inteiro, sofrendo muito mais do que eu. Haa mlhares de pessoas que não temf voz, que jamais ttiveramtodas as ooortunidsaades que eu tive e ocontinuo tendo. AAssim como hãa miihares de pessoas que como eu tem mmedoos. Ter medo, eu já vi, não pe nadaaa bom.  Ter medo me levou a dar o combust~ivel que meu corpo precisava para a doença se manifestar e me aprisionar. Não vou deixar o medo reger aa minha vida, as minhas decisões. Vou fooortalecer meu corpo, paraa seguir meu caminho. Na paz, comigo mesma, com meus sonhos, com meus ideais, com qqquem amo e com quem me ama. Lembrando sempre do passado, para não fraquejar no presente, mas com o ffoco no futuro. Porque eu quero um futuro, eu mereço  um futuro, eu acredito num futuro melhor. Sem medo !






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