De volta, para o futuro...

Acordei de ressaca...Não daquelas ressacas de bebedeira, pois não ingeri uma gota sequer de bebida alcoólica ontem! Gostaria que fosse esta a minha ressaca. Bastaria um engov, quem sabe uma água de coco, algumas horas e tudo estaria resolvido. Acordei de ressaca cívica! Uma ressaca doída, profunda, amarga e duradoura. Um ressaca que faz você levar seu pensamento pra trás e pra frente, que te leva ao passado, te traz de volta ao presente e que não permite, por mais esforço que faça, que vislumbre um horizonte, um futuro. Como se estivesse num barco à deriva. Uma ressaca que dá nojo, não enjoo, como a ressaca da bebedeira.
Assim mesmo, resolvi levantar. Fui até a janela ver o amanhecer, respirar um pouco da brisa do mar, admirar a vista, olhar o Cristo Redentor... Tirando a brisa, não encontrei mais nada do que precisava para o meu alento! Nuvens espessas encobriam o Rio de Janeiro. O Cristo se escondeu por entre as nuvens (será por vergonha também?), aparecendo vez por outra timidamente e o mar, sempre tão calmo, como é de se esperar numa baía, estava tomado por uma espuma branca, sujo e, assim como eu, de ressaca.
Voltei pra cama, abri o computador, tentei esquecer...Difícil, com todas os sites noticiando a vitória de Jair Bolsonaro à presidência. Difícil, ao ver tantas fotos deste ser que será em breve presidente do meu País. Difícil, meu nojo só aumentava a cada foto, a cada comentário que lia, a cada xingamento dirigido aos que não o apoiaram, aos que decidiram não ser cúmplices desta tragédia mundialmente anunciada. Foi então que tocou o despertador. Ainda não eram 6h...
O despertador foi programado pelo meu marido. Hoje, logo cedo, ele foi ao posto de saúde buscar para mim os remédios que há anos recebo gratuitamente do SUS. Não porque sou pobre, não porque faço parte das classes C ou D, não porque dei um 'jeitinho' para tirar vantagem também de um dos programas sociais mais bem sucedidos deste País, o Farmácia Popular, criado pelo Presidente Lula em 2004. Recebo os remédios gratuitamente porque tenho uma doença crônica e sou cidadã brasileira. Recebo os remédios gratuitamente porque é um direito meu.
Ao me lembrar disto, ao me lembrar do meu choro de ontem, do choro de minha filha, da depressão que se abateu sobre nossa família, percebi que é cedo, que ainda é muito cedo para jogar a toalha! Assim como tenho o direito de receber meus remédios, tenho o direito de ir e vir, de expressar minha opinião, de escolher qual e se quero ou não uma religião, tenho direito ao trabalho, à educação, ao respeito, à integridade física e moral! Respirei fundo e decidi não aceitar o luto que desde ontem vestiram muitos daqueles que, junto comigo, se empenharam com alma e coração pela vitória de Haddad, pela vitória do diálogo e da democracia. Ou corremos o risco de tantas conquistas serem perdidas, serem usurpadas de nós mais uma vez.
Dei um pulo no passado em meu blog e retirei de lá, do texto que publiquei no dia 27 de outubro de 2014, o dia seguinte à eleição de Dilma Roussef, o último parágrafo, que continua valendo, com exceção da segunda frase. Não estou tranquila nem confiante, infelizmente, mas cada vez mais convicta de cada palavra escrita.
"Por tudo isto, votei em Dilma. Votei e me sinto tranquila e confiante. E, convido a todos que se dizem em luto pelo Brasil, que mudem o substantivo pelo verbo e optem por lutar pelo Brasil. Temos um longo caminho pela frente, que começa aí, na sua casa. Começa com o exemplo de honestidade, respeito, justiça e dignidade que você dá para seus filhos, seus vizinhos, seus amigos. É o exemplo que sempre tive com meus pais e que temos, eu e meu marido, conseguido duplicar em nossa casa. É o exemplo que vejo, com alegria, já arraigado no caráter de meus filhos e que vem determinando o caminho que começam a trilhar."

A luta continua!

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