Hora de mudar o foco


Uma das coisas que sempre tentei preservar e valorizar na minha vida foi a liberdade.Acredito que seja este o desejo da maioria das pessoas - poder sair, conhecer o mundo, novas pessoas e lugares.Tudo isto sempre me fascinou.

Ano passado tive a oportunidade de ir, pela primeira vez, à Argentina. Meu filho Tiago, estudante de veterinária, ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Universidad Nacional del Centro de la Província de Buenos Aires, em  Tandil, cidade simplesmente adorável, a algumas horas da capital Argentina.Três meses após a ida dele, meu marido e eu juntamos a saudade do filho com férias e fomos conhecer a terra dos 'hermanos'!

Ah, como é bom poder usufruir destas chances que a vida nos oferece! Após percorrer por umas cinco ou seis horas os pampas argentinos, assistir a um  por do sol lindo e, sem dúvida, o mais longo da minha vida, chegamos a Tandil,  onde matamos a saudade do filho,  passeamos muito por uns seis dias e seguimos para Buenos Aires. 

Fomos em plena primavera! Cidade linda, cheia de prédios antigos maravilhosos, conservados, com parques imensos, bem cuidados, com lindas flores e um povo extremamente receptivo e bem educado. Fizemos os passeios tradicionais – Casa Rosada, Porto Madero, Feira de SanTelmo, El Camenito etc. etc, comemos muito bem, bebemos vinhos deliciosos, enfim, nos apaixonamos pelo país vizinho.  Deixamos para o último dia  a ida a um local que todos diziam ser importante conhecer em Buenos Aires – o Cemitério da Recoleta. Confesso que nunca pensei em “passear” num cemitério, mas, tradição é tradição!

Fomos cedo e depois de conhecer o túmulo de Evita, fotografar alguns detalhes de outros tantos, enxerguei um escrito de Santo Agostinho que me pareceu o que de mais belo havia naquele cemitério. Ao rever a foto, tive a sensação de que a mensagem de Santo Agostinho é uma lição para o terrível momento que estamos vivendo hoje no mundo.  


“Oh, vosotros que nos llorais, 
No os deijes abatir por el dolor. 
Mirad la vida que comienza, 
Y no la que há concluido

                                                                            San Agustin 



"Oh, vocês que choram por nós
Não se deixem abater pela dor
olhem para a vida que começa
e não para a que foi concluída"
         Santo Agostinho

Nestes tempos de 
coronavírus temos, com extremo pesar, contabilizado dia a dia nossos mortos, os mortos na Itália, na China, em todo o mundo. Foram e ainda serão muitos, infelizmente. E é exatamente por termos amor à liberdade, à nossa vida e a dos que nos cercam, que devemos tirar o foco de nossa dor e não nos abater. É preciso entender e aceitar que temos, agora, que ficar em casa sim, que temos que nos privar de nossa liberdade de ir e vir, para preservar a nossa vida, a de nossa família, nossos amigos, vizinhos, nosso povo.

É difícil, mas basta lembrarmos de Santo Agostinho, de suas palavras  gravadas na lápide de um túmulo do Cemitério da Recoleta.Não importa qual seja a nossa religião e nem mesmo se seguimos alguma ou não! Temos que olhar para a vida que recomeça a cada dia e não para a que já terminou. Sentimos muito, por cada uma delas, mas temos o direito e o dever de focar na vida.  

Reflita, pense nisto e fique em casa!   

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