Carta aberta a André Tal, jornalista e portador de Parkinson, como eu

 André, boa tarde. 

Me chamo Mariza Pelegrineti Lourenço Grynszpan, sou casada, tenho 59 anos e três filhos. Como você, sou jornalista e tenho Parkinson. Como você, tentei por anos a fio esconder a doença, que até hoje não consigo aceitar...como você, me sinto indignada, desde o dia em que recebi o diagnóstico, há pouco mais de 15 anos. Desde então digo todos os dias: "quero a minha vida de volta"! Exatamente o que disse a paciente americana, também portadora de doença neurológica, que você entrevistou  e  que se submeteu ao tratamento experimental  do  Dr. Marc Abreu, tema de sua reportagem: recebi a minha vida de volta!



André, não sei a que horas você lerá esta mensagem, que tento escrever há mais de duas horas, nem mesmo se algum dia a lerá. Hoje é segunda-feira, dia 6 de dezembro de 2021 e passa um pouco do meio dia. Só agora começo a me refazer emocionalmente, após assistir, por duas vezes, a matéria que você fez sobre Parkinson para o Domingo Espetacular, da TV Record, veiculada ontem.

Confesso que só soube da reportagem hoje pela manhã. Recebi uma mensagem de minha mãe, pedindo que eu buscasse  a matéria na internet.  Ela só havia visto o finalzinho na noite de domingo, ao ser alertada pela pessoa "abençoada" que lhe faz companhia nos finais de semana, a sua xará, Andréia. Ela assistia ao programa na casa de minha mãe, a quem avisou sobre a reportagem, pois pensou logo em mim.  Assim, por volta das 8h, assisti sozinha - e chorei do início ao fim. Um pouco mais tarde, assisti com meu marido. Também chorei , do começo ao fim da reportagem. Fácil entender o porquê! 

Apesar dos sintomas diferentes, enxerguei a minha história em cada depoimento seu. Tenho bastante tremor,  o que me levou a descobrir a doença,  mas não perdi o olfato e, creio eu, também preservo minhas expressões faciais, mesmo não tendo escapado da rigidez muscular. Me vi  angustiada quando você mostrou a dificuldade para caminhar, para vestir uma roupa,.  Me vi sentindo vergonha quando você disse: as pessoas me olham como se eu estivesse bêbado. O mesmo acontece comigo também quando começam a olhar insistentemente para 'tentar' entender o que está acontecendo, porque estou tão lenta...

Bem André, desculpe-me pelo textão, mas precisava compartilhar tudo o que senti ao ver sua história, carregada de tantas coincidências com a minha. Para simplificar minhas 'apresentações', encaminho um texto que publiquei em meu blog em 2018 (https://finaventura.blogspot.com/2018/10/carta-aberta-aos-que-tem-medo.html) , onde expus todos estes sentimentos - surpresa, indignação, revolta, determinação, impotência, vergonha - que, ao que parece, caem juntos e misturados em nosso colo quando recebemos o diagnóstico de Parkinson.  

Também gostaria de registrar minha satisfação ao ver o respeito e o incentivo dos profissionais de sua empresa para que você continue a buscar mais qualidade de vida e , quem sabe,  um dia anunciar a cura desta doença que, silenciosamente, nos consome. Infelizmente, eu parei de trabalhar desde 2012, pouco antes dos meus 50 anos.  Trabalhava na Petrobras, como prestadora de serviços.  Ao ser demitida após uma cirurgia no joelho, que me afastou do trabalho por dois meses, em licença e mais um mês de férias, nunca mais consegui me recolocar no mercado. Estou aposentada por invalidez desde 2017. Mas não me sinto inválida - apesar de saber que hoje é impossível assumir qualquer rotina de trabalho. Tenho esperanças de ter, ao menos, minha vida pessoal de volta em sua plenitude - me virar na cama no meio da noite sem ter que pedir ajuda, caminhar sem arrastar os pés, digitar no celular, entrar no mar sozinha...

André, só posso desejar que tudo esteja acontecendo para você conforme o esperado, após o tratamento feito recentemente.  Parabéns pela sua força e determinação para continuar como jornalista, profissão que amo desde sempre, mas que nos exige saúde e entusiasmo para estar a cada dia em um local diferente, para abordar assuntos novos, viver situações muitas vezes inesperadas, falar com  celebridades ou com pessoas comuns, como nós, com  a mesma atenção e respeito.

Gostaria de obter mais informações sobre o tratamento do Dr. Marc Abreu - custos, riscos, como você se sente hoje, o quanto você acha que valeu ter participado deste tratamento experimental. Imagino que estejam chovendo mil e uma perguntas para você. Mas eu não poderia deixar de lhe pedir estas informações e espero que possamos nos falar em breve. Um grande abraço e toda a minha admiração.

Saúde, saúde e paz.
Mariza.


Link para a reportagem  de André Tal (https://www.youtube.com/watch?v=h3td9yjSQTA)

Comentários

  1. Gostaria de ver essa reportagem. Vc tem o link?
    Força amiga.

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    Respostas
    1. Monica, acredito que você tenha visto que publiquei o link no facebook, no dia em que vi esta mensagem sua, Desculpe a falha técnica!!! hehehehe


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