Eu luto, não em luto



Ao final do dia de ontem, após o resultado das eleições que consagraram Dilma Rousseff presidenta eleita do Brasil, como era de se esperar, eleitores usaram as redes sociais para manifestar suas alegrias e decepções com o resultado das urnas. Como se fosse um reflexo de uma campanha marcada por denúncias,  calúnias e sordidez, alguns se excederam e destilaram suas palavras carregadas de ódio (??), medo(??) e decepção em suas timelines. Depositaram na conta pessoal de cada eleitor da candidata vitoriosa décadas de corrupção, desmandos, impunidades e injustiças.  Sim, décadas, porque todos sabem que nada disto começou agora e que antes, simplesmente, varria –se a sujeira para debaixo do tapete.  Hoje, se muitos ainda se assustam com a quantidade de denúncias e escândalos que, infelizmente surgem diariamente em nossos meios de comunicação, é porque ainda não estão prontos para encarar esta fratura exposta. Pessoalmente também me dói tudo isto e, obviamente,  não compactuo com as atitudes  criminosas, egoístas e levianas  de muitos de nossos governantes, empresários, médicos, jornalistas, profissionais liberais, professores, etc, etc. Mas fico feliz que tudo isto esteja ao vivo e a cores em nossa mídia. É este o começo para o fim da impunidade.

Fiquei de fora da campanha, como declarei em meu texto anterior, Para o mundo que eu quero descer. Isto não significa, no entanto, que sou uma alienada e que havia abandonado o barco. Manifestei sim toda a minha alegria com o resultado das eleições, afinal, minha candidata venceu. E aí comecei a ser “punida” por crimes que não cometi. Não creio, como alguns publicaram, que sejamos – leia-se aí, os eleitores da Dilma - todos burros, corruptos e bandidos. É preciso separar o joio do trigo. Quem sou eu para sair condenando sem examinar detalhadamente as provas e também sem aplicar o que aprendi logo no início da faculdade de jornalismo: ”é fundamental ouvir todos os lados e procurar todas as fontes fidedignas de uma história antes de publicá-la”. Tento aplicar este aprendizado em tudo o que faço em minha vida. E completo com o que aprendi desde pequena com minha mãe, que sempre fez questão de nos lembrar da máxima que rege o Direito: “in dubio, pro reo”(expressão latina que pressupõe a inocência do acusado em caso de dúvida).

No meio de tantas publicações, muitas delas declarando luto em protesto à vitória da Dilma, no entanto, encontrei uma que muito me alegrou, de um jovem eleitor carioca, de classe média alta e que exerceu seu direito de voto pela primeira vez na vida. “Agora que a Dilma já foi reeleita, queria propor uma reflexão pros meus amigos que votaram  no Aécio Neves. O que eu quero saber é: A vida de vocês tá ruim?????” indagou.

Apesar de não ter votado em Aécio, vou responder também.  Minha vida já esteve melhor. Assim como a economista que recebeu aquela resposta sem sentido da então candidata Dilma no último debate, tenho mais de 50 anos, trabalhei em grandes jornais e em grandes empresas, sou bem qualificada profissionalmente, mas estou desempregada há quase três anos e não encontro espaço no mercado de trabalho. Mesmo assim, acompanho de perto as melhorias sociais que vem mudando consideravelmente a vida daqueles brasileiros que ainda estão a milhares de quilômetros do que é minha vida hoje, mesmo desempregada. Acompanho de perto e torço para que melhorem cada vez mais. Acredito ser esta a mudança que  nosso país precisa. É um processo que precisa de tempo para ser consumado e que deve ser continuado. É o caminho que vai transformar este país grande num grande país.

Por tudo isso, votei em Dilma. Votei e me sinto tranquila e confiante. E convido a todos que se dizem em luto pelo Brasil, que mudem o substantivo pelo verbo e optem por lutar pelo Brasil. Temos um longo caminho pela frente, que começa aí, na sua casa. Começa com o exemplo de honestidade, respeito, justiça e dignidade que você dá para seus filhos, seus vizinhos, seus amigos. É o exemplo que sempre tive com meus pais e que temos, eu e meu marido, conseguido duplicar em nossa casa. É o exemplo que vejo, com alegria, já arraigado no caráter de meus filhos e que vem determinando o caminho que começam a trilhar.

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