Saudades de mim, ou AM e DM

Há dois dias comemoramos a Páscoa, o renascimento de Cristo. Não importa se cristãos ou não, acredito que as pessoas percebam, em algum momento de suas vidas, que há sempre uma divisor marcante, que não nos dá o direito de voltar à vida anterior. Para mim – e, acho eu, para a maioria das mães - é quando nasce o primeiro filho. Porque com ele nasce o amor incondicional, leal, forte, infinito e simplesmente inexplicável. Credito a esse amor a força que muitas mulheres demonstram para enfrentar alguns obstáculos, às vezes de forma tão suave e tranquila que, para muitos, pode parecer que elas sequer tem a dimensão da problema que enfrentam. Na verdade, o que elas realmente fazem é transformar essa força em encantamento.

Assim tem sido para a minha sobrinha Letícia! Mais uma vez ela me encantou esta manhã, com seu sorriso lindo e suas palavras. Ao abrir meu facebook, a primeira imagem que vi foi uma foto dela, linda e maravilhosa como sempre, acompanhada do seguinte desabafo:  



“Saudades de mim

Ou melhor, como alguns amigos me fizeram lembrar nos comentários, essa não sou mais "eu", né?! Além das diferenças estéticas, essa da foto ainda tinha o irmão Dequinho por perto, não tinha câncer e não era mãe da menininha mais maravilhosa que existe! Em tão pouco tempo, tanta coisa mudou! Sei lá se hoje sou uma pessoa melhor ou pior, mas além de nostálgica, estou feliz que parte do tratamento está na reta final e que ele tem dado certo (a quimio e a cirurgia tiveram ótimos resultados)! Falta pouco tempo para essa fase acabar (UFA!), mas sei que para esse "normal" da foto minha vida nunca vai voltar! Tenho muito tempo de tratamento ainda e vamos combinar que agora sou mãe,né?! A mãe da Nina Pelegrineti Montalvo! Só esse fato é transformador por demais! E sou muito grata por isso! Dias melhores virão com certeza e essa foto me traz saudades, mas traz também esperança!!

Pois é, Letícia, aquele “normal” não volta nunca mais. Você vai sentir saudades? Claro que vai! Eu diria que será uma saudade eterna, mas que um dia doerá menos e será sentida apenas com alegria e nostalgia, por você ter tido tantos momentos bons. Você vai perguntar inúmeras vezes: por que tinha que ser comigo? Também vai, claro que vai! Ninguém que sofrer, abandonar os planos e sonhos que fez para a sua vida para enfrentar uma doença, principalmente num momento tão sublime como foi com você, na hora de conhecer a maternidade. Você vai se revoltar muitas vezes, mesmo sem passar isto para os outros? Claro, ninguém é de ferro! Porém, ao passar por tudo, ao chegar na fase que você já está chegando, você vai começar a entender, ou aceitar, porque não dá mais para voltar, não dá mais para ser como era antes.

Chegou a hora, Letícia, de voltar seus olhos para a sua menina e enxergar que aquele “eu” realmente não existe mais. Basta olhar para ela para você ter a certeza que, desde o nascimento da Nina, aquele “eu” jamais voltaria a existir. Com ou sem câncer, com ou sem quimio, com ou sem cirurgia, com ou sem Dequinho.... Desde o dia 13 de agosto de 2015, aquela Letícia da foto não existe mais. Você foi promovida à categoria de mãe e ganhou “novos poderes” para enfrentar o mundo. Principalmente, o poder do amor incondicional. Que sábia e docemente você tem demonstrado ter de sobra, não só para a Nina, mas para todos que estão próximos a você!

Fique tranquila, Letícia. Como diz a minha mãe, ou sua Vó Ena, a genética é um fato. Seu “eu” anterior já carregava uma força absurda, herdada de sua mãe Bia, e era maravilhoso. O seu novo “eu” está cada vez mais lindo e te fará muito mais feliz! 

Comentários

  1. Simplesmente lindo. A facilidade com que você escreve uma história. Me encanta!

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