O revisor


Sou jornalista do tempo em que as máquinas de escrever olivetti e lexikon eram nosso instrumento de trabalho. Que computador, que nada! Os melhores textos dos grandes jornalistas deste país eram escritos na redação, um ambiente barulhento, com muitos fumantes e laudas e folhas de papel carbono pra todo lado. Apesar de todo o barulho, principalmente no horário próximo ao fechamento da edição do dia, a gente escrevia como se cada um estivesse isolado numa sala, sem qualquer interferência. Como? Não sei explicar, mas na hora em que eu pegava as 3 laudas, recheava com duas folhas de papel carbono, colocava na máquina e preenchia o cabeçalho da reportagem - identificando repórter, fotógrafo, editoria, e assunto - se dava a mágica! Obviamente não era assim todos os dias, mas na maioria deles. Também, não havia outra opção: ou você aprendia a trabalhar assim ou jamais trabalharia num grande jornal. 

Ao terminar seu texto, uma das cópias ia direto para o revisor, que faria as correções e alterações necessárias, Que falta faz um revisor nos jornais de hoje! Acho que só de saber que o texto seria lido por outra pessoa antes de ser publicado, já dava uma segurança danada ao escrever. Mas, por que estou contando tudo isto agora, você deve estar se perguntando? Porque, apesar de eu ter sido convidada a ser uma das revisoras de O Globo (não aceitei, ainda era muito nova e gostava da reportagem, não queria ficar presa na redação), quase nunca publiquei um texto sem ter tido a revisão de um outro jornalista. Insegurança? Talvez! Como há muito tempo deixei as redações, escolhi como meu revisor oficial meu colega e marido, Walter Grynszpan.


Momento relax em Elói Mendes, MG (casamento de Maju e João Carlos)


Bem, todo este 'nariz de cera', na verdade, é para agradecer a ele por todos os textos que já leu pra mim, por todas as revisões, correções e pitacos e principalmente pelo apoio e incentivo para que eu continue a fazer uma das coisas que mais gosto, que é escrever! Sua última revisão foi feita no texto que publiquei ontem no meu blog e compartilhei aqui. Muitas pessoas dizem que se emocionam ao ler meus textos, Desta vez foi a minha vez de eu me emocionar. ...

Segue a resposta que Walter me deu quando terminou de ler 'Carta aberta aos que tem medo'' https://finaventura.blogspot.com/…/carta-aberta-aos-que-tem…

"Lindo, extremamente tocante e primorosamente escrito.
Como sempre.
Não corrigiria os erros porque é claramente perceptível que eles são o texto, são o enredo.
Você deu um pequeno salto do jornalismo para a literatura
Criou seu estilo, inovou e usou a palavra impressa, ou a dificuldade de expressão escrita decorrente da doença, na sua forma, para contar a história.
Tá no caminho de alguns inovadores “mestres da língua”, como dizia o Muniz naquelas aulas de redação, quando nos estimulava a tentar imitar para aprender. "

Natal, faz tempo...


Florença, 2013
Roma, 2013




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